7 de julho de 2010

Amor romântico é um vício, dizem pesquisadores

Enquanto olham para as fotografias dos antigos parceiros, homens e mulheres com o coração partido ativam regiões no cérebro associadas com recompensa, ânsia do vício, controle das emoções e sentimentos de apego, dor física e angústia

Aqueles que sofrem por um amor perdido pode ter uma razão biológica para a sua situação. Uma nova pesquisa sobre o cérebro publicada na edição de julho do Journal of Neurophysiology sugere que a rejeição de um amante pode ser semelhante ter de se livrar de um vício.

O estudo é um dos primeiros a examinar o cérebro de pessoas que tiveram o "coração partido" recentemente e têm dificuldade de esquecer o seu relacionamento. Os pesquisadores descobriram que, enquanto olham para as fotografias dos antigos parceiros, homens e mulheres com o coração partido ativam regiões no cérebro associadas com recompensa, ânsia do vício, controle das emoções e sentimentos de apego, dor física e angústia.

Os resultados fornecem respostas sobre os motivos pelos quais pode ser muito difícil para alguns superar uma ruptura e porque, em alguns casos, as pessoas são levadas a cometer atos extremos, como perseguições e homicídios, depois de perder o amor.

"O amor romântico é um vício", disse a autora da pesquisa, Helen E. Fisher, antropóloga biológica da Rutgers University, em New Jersey, nos Estados Unidos em entrevista ao site Livescience. "É um vício muito poderoso e maravilhoso quando as coisas estão indo bem e um vício horrível quando as coisas estão indo mal", disse ela.

Os pesquisadores desconfiam que a resposta do cérebro à rejeição romântica possa ter uma base evolutiva. "Eu acho que os circuitos do cérebro para o amor romântico desenvolveram-se há milhões de anos para permitir que os nossos antepassados concentrassem sua energia de acoplamento em apenas uma pessoa por um tempo e iniciar o processo de acasalamento", disse Fisher. "E quando você foi rejeitado no amor, perdeu o maior prêmio da vida que é um parceiro para o acasalamento", afirma a pesquisadora. "Este sistema do cérebro é ativado, provavelmente, para ajudar ao rejeitado a tentar conquistar a pessoa de volta, para que se concentre nela e tente recuperá-la", disse ela.

Cérebro dos corações partidos
Fisher e seus colegas fizeram a varredura dos cérebros de 15 voluntários em idade de frequentar a faculdade (10 mulheres e 5 homens) que tinham experimentado recentemente uma ruptura, mas ainda amavam a pessoa que os havia rejeitado. A duração média das relações era de cerca de dois anos, e 2 meses haviam se passado, em média, desde o rompimento dos relacionamentos.

Todos os participantes tiveram altas pontuações na Escala de amor apaixonado, um questionário que psicólogos utilizam para medir a intensidade dos sentimentos românticos. Os participantes também disseram ter gasto mais de 85% de suas horas acordados pensando em quem os rejeitou.

No experimento, os participantes olhavam uma fotografia de seu ex-parceiro e foram convidados a pensar sobre os acontecimentos que ocorreram com ele ou ela. Os participantes também olhavam para uma imagem neutra de uma pessoa familiar, como um colega ou amigo de um amigo. Para tentar reprimir os sentimentos românticos despertados a partir da primeira metade do experimento, os pesquisadores pediram aos participantes que competissem em um exercício de matemática entre o momento de olhar a fotografia do amado e a fotografia neutra.

Resultados
- Visualizar o ex-parceiro estimulou uma região do cérebro chamada área tegmental ventral, envolvida na motivação e recompensa. Trabalhos anteriores demonstram que essa região também está ativa em pessoas que estão loucamente apaixonadas. Isso faz sentido, porque "se você está feliz no amor, ou se você está infeliz no amor, você ainda está apaixonado", disse Fisher.

- As regiões do cérebro conhecidas como núcleo accumbens e córtex orbitofrontal/pré-frontal também foram ativadas. Estas regiões são conhecidas por serem associadas ao vício em cocaína e a intensa dependência ao cigarro.

- Houve também aumento da atividade no córtex insular do cérebro e do cíngulo anterior, as regiões associadas com a dor física e angústia.

Algumas boas notícias
Os investigadores encontraram algumas boas notícias para as pessoas romanticamente rejeitadas: parece que o tempo cura a dor que elas estão sentindo hoje. Quanto mais o tempo tinha passado desde a separação, menor atividade havia em uma região do cérebro associada ao prazer e à recompensa.

As áreas do cérebro envolvidas na regulação da emoção, a tomada de decisão e avaliação também foram ativadas quando os participantes viram a foto do seu ex-amor. "Isto sugere que os participantes estavam aprendendo a partir de sua experiência romântica passada, avaliando os seus ganhos e perdas e descobrindo como lidar com a situação", disse Fisher.

Estes resultados sugerem que falar sobre sua experiência, ao invés de simplesmente "curtir" o sofrimento, pode ter benefícios terapêuticos para o apaixonado. "Parece ser saudável para o cérebro, ao invés de apenas ficar nadando em desespero, pensar sobre a situação de forma mais ativa e tentar trabalhar uma forma de lidar com isso." disse Fisher.

Fonte: Redação Terra - 06/07/2010

6 de julho de 2010

FRIDA KAHLO

"Espero alegre a saída e espero nunca voltar"

Última página do diário de Frida Kahlo (1907-1954) 06 de Julho

trajetória marcada por doenças

No Admirável Mundo Médico, * analisamos apenas duas obras de Maldalena Carmen Frida Kahlo (1907-1954), considerada a mais importante pintora mexicana: Auto-Retrato com o Retrato do Dr Farill (1951) e A Coluna Quebrada (1944). Frida Kablo é dona de uma biografia singular e de uma produção artística riquíssima, por isso merece um novo enfoque neste livro. Algumas informações do Admirável Mundo Médico precisarão ser repetidas aqui para compormos a trajetória marcante de Frida Kahlo.
Aos seis anos de idade, Frida contraiu poliomielite. A doença deixou como marcas o membro inferior direito mais curto e a musculatura atrofiada. O constrangimento causado por essas seqüe- las acabou criando um fato extremamente interessante para encobrir a deficiência Frida começou a usar saias longas como as das indígenas mexicanas. Já famosa, as intelectuais de sua época e as mulheres de um modo geral acharam que ela estava; lançando moda e começaras a também usar aquelas saias longas.

Acidentes (1926). Frida Kahlo. Gravura a lápis


Quando tinha 18 anos, o ônibus no qual Frida Kahlo viajava chocou-se com um bonde. Em conseqüência da gravidade do aci-dente, no qual várias pessoas morreram, ela sofreu fraturas em três vértebras, fratura cominutiva (fragmentação) da tíbia e fíbula direitas, além de três fraturas de pelve (bacia).
Quando ainda estava convalescendo das múltiplas fraturas so-fridas no acidente de ônibus, Frida fez em seu diário uma aquarela retratando sua visão do acidente.
Por conta da fratura de pelve, Frida foi informada de que não poderia ter filhos de parto normal, e era recomendável portanto


que evitasse engravidar. O acidente também destruiu seu sonho de ser médica. Em 1929 ela sofreu o primeiro aborto; em 1932, o segundo e último. Seu grande desejo era ter filhos, e a impos-sibilidade de concretizá-lo naturalmente deixou-a extremamente traumatizada.

O Hospital Henry Ford, ou Cama Voadora (1932). Frida Kahlo. Óleo sobre metal 77,5 x 96,5.Coleção Fundaçao Dolores Olmedo (México)


Nesse período, Frida pintou o quadro O Hospital Henry Ford, também conhecido como A Cama Voadora (1932). O quadro mostra a pintora deitada no leito do hospital, localizado em Detroit, EUA. Flutuando sobre o leito, pode ser visto um feto do sexo masculino, um caramujo e um modelo anatômico de abdome e de pelve. No chão, abaixo do leito, são vistos uma pelve óssea, uma flor e um autoclave. Todas as seis figuras estão presas à mão esquerda de Frida por meio de artérias, de modo a lembrar os vasos de um cordão umbilical. O lençol sob Frida está bastante ensangüentado. Seu corpo é demasiadamente pequeno em relação ao tamanho do leito hospitalar, de modo a sugerir seu sofrimento e sua grande solidão.
Do olho esquerdo de Frida goteja uma enorme lágrima, simbo-lizando a dor de uma mãe pela perda do filho; a pelve óssea é um testemunho da causa anatômica da impossibilidade de ser mãe.

Nascimento (1932), ou O Meu Nascimento. Frida Kahlo. Óleo sobre metal .Coleção particular (Estados Unidos)


Uma pintura marcante do ponto de vista médico intitula-se Nascimento, ou O Meu Nascimento, de 1932. Nessa pintura a óleo, a artista imagina como teria sido o parto do qual ela havia nascido, ligando a cena ao seu trauma quando sofreu os abortos. A cabeça da mãe de Frida encontra-se coberta por um lençol, em alusão ao fato de que sua genitora falecera no período em que ela pintava esse quadro.
Há também uma pintura chamada O Coração, ou Recordação, de 1937, onde ela pinta um coração de tamanho proporcional ao seu sofrimento ao ter descoberto que seu marido, o também pintor e muralista Diego Rivera (1886-1957), mantinha um romance com sua irmã Cristina (1908-1964). No quadro ela se mostra com o tórax traspassado por um objeto perfurante, enquanto o coração sangra no chão, exprimindo sua imensa angústia.
É interessante observar que há um curativo no seu pé esquerdo; isso se explica porque, na verdade, os ferimentos no membro inferior esquerdo de Frida nunca cicatrizaram, tendo evoluído para osteomielite com conseqüente amputação. Cerca de dois anos após a amputação, fato que a deixou extremamente deprimida, a pintora veio a falecer.
Frida tinha 11 meses quando a irmã Cristina nasceu. Por causa da recém-nascida, sua mãe entregou-a para ser amamentada por uma ama-de-leite. Um profundo sentimento de rejeição seguiu a pintora por toda a vida e foi expresso no quadro Eu a Mamar, também chamado A Minha Ama e Eu, de 1937. Para retratar a frieza com que a ama-de-leite a amamentava, Frida pinta os olhos e a face dela de negro, tirando-lhe a personalidade e mostrando que não queria que ela a fitasse. A nutriz é vista por transparência e é possível identificar a glândula mamária e seus ductos. Da mama direita, com o mamilo enrijecido, também goteja leite.

O Coração, ou recordação (1937). Frida Kahlo. Coleção Michel Petijean ( Paris)

Eu a Mamar, ou A Minha Ama e EU (1937). Frida Kahlo (1907-1954).Óleo sobre tela . Coleção Fundação Dolores Olmedo (Méxivo)

A pintura intitulada As Duas Fridas, de 1939, mostra a ana-tomia do coração. O objetivo dessa tela foi mostrar as duas personalidades que dominavam Frida quando da crise conjugal que resultou na separação de Diego Rivera. O trauma causado pela separação gerou uma pintura com um toque anatômico: uma personalidade é a Frida mexicana, a outra é a Frida distante, européia.

Os corações em sofrimento estão unidos por veias braquiocefálicas direitas de ambos os corações. Tais veias estão tão unidas quanto unidas estão as mãos das Fridas. A Frida européia mostra seu coração dilacerado, aberto, com as valvas, músculos papilares e cordas tendíneas à mostra. A sua veia subclávio direita está presa por uma pinça sob controle da mão direita, dando a entender que a qualquer momento a Frida abandonada se deixará esvair em sangue até à morte.
Depois de se submeter a mais uma operação de coluna, em 1946, agora em Nova York, Frida pinta o quadro Árvore da Esperança, Mantém-te Firme. Esse retrata seu sofrimento, simbolizado pela
noite, enquanto a esperança de recuperação é mostrada pelo sol brilhando no início de um novo dia.

As Duas Fridas (1939). Frida Kahlo. Óleo sobre tela, 173 x 173 cm. Museu de Arte Moderna (México)


Árvore da Esperança, Mantém-te Firme (1946). Frida Kahlo. Óleo. 56 x 40.5 cm. Galeria de Artes Isadora Ducasse (Nova York)

O chão sob o qual Frida repousa encontra-se todo fendido, rachado, simbolizando as fra-turas nos seus ossos. Sobre a maca, ela deixa à mostra as regiões lombar e pélvica, nas quais pode-se ver a incisão sangrante feita para a osteossíntese vertebral, e outra incisão oblíqua na projeção da crista ilíaca direita, de onde foi retirado o osso para enxertia. A Árida sentada ao lado da maca com vestimenta tehuana segura na mão esquerda o colete ortopédico que ela sonhava abandonar quando estivesse curada. Na mão direita, ela agita uma bandeirola que dá nome ao quadro.

O Marximo Dará saúde aos Doentes (1954). Frida Kahlo


A pintora se submeteu a mais de 30 cirurgias, entre as quais sete de coluna. O Dr. Juan Farill foi o médico que operou sua coluna e foi homenageado por Frida com o quadro Auto-Retrato com o Retrato do Dr. Farill (1951).
Corria o ano de 1954 quando Frida resolveu retratar sua convicção, ou simpatia, pelo marxismo. Ela então pinta O Marxismo Dará Saúde aos Doentes. Nessa obra, a artista exterioriza seu sonho de que o marxismo acabaria com todo o sofrimento e dor que subjugam a humanidade. Ela estava tão entusiasmada com a idéia de que o marxismo seria a esperança de novos dias para o povo mexicano que, nessa pintura, abandona as muletas, embora se mantenha com o colete ortopédico. As mãos do marxismo a envolvem num gesto aconchegante. A pomba da paz voa no céu. O mundo dividido entre marxistas e capitalistas aparece à sua direita; à esquerda de Frida vê-se Karl Marx estrangulando Tio Sam, cujo corpo é a águia americana. A mão esquerda de Frida segura o livro vermelho do comunismo e próximo a ele vê-se o cogumelo da bomba atômica. A pomba, observamos, parece alçar vôo a partir da Rússia (ex-URSS) e da China.
Em 1954, Frida Kahlo foi encontrada morta. Seu atestado de óbito registra embolia pulmonar como a causa da morte. A última anotação em seu diário permite aventar-se a hipótese de suicídio.

Esquadros Ádriana Calcanhoto

Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que não sei o nome.
Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores.
(...)
Pela janela do quarto, pela janela do carro,
Pela tela, pela janela,
Quem é ela, quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado, remoto controle.

Última página do diário de Frida Kahlo (1907-1954): "Espero alegre a saída e espero nunca voltar."

Fonte: www.portalmedico.org.br